Falar de educação bilíngue no Brasil remete a um tempo não muito longínquo, mas apesar disso, esse tipo de ensino está cada vez mais presente nas cidades brasileiras. Quando pensamos em educação bilíngue ainda lidamos com falta de conhecimento sobre o tema, dificuldade de acesso a informações e uma carga de desconfiança de parte da sociedade. Este texto tem o objetivo de celebrar e apontar motivos para se investir neste tipo de educação.
Os estudos e publicações mais recentes tem enaltecido o ensino bilíngue como forma de educação eficaz e importante para o desenvolvimento cognitivo das crianças que passam por esse sistema. Não obstante as significativas aquisições sócio/culturais, os estudos apontam que “crianças bilíngues apresentam melhor desempenho cognitivo-linguístico e metalinguístico se comparadas a crianças monolíngues” (CAPELINI E GERMANO, 2014).
Segundo o linguista Chomsky (1957), a linguagem é inata, portanto, impossível à criança eximir-se dela quando em contato com pares que funcionem como modelos linguísticos. Nascemos, segundo o mesmo estudioso, aptos a aprendermos qualquer língua e somos impelidos pela sociedade a qual pertencemos, a adquirirmos a linguagem que nos é apresentada. Desta forma, o ensino de uma segunda língua torna-se possível e para além disso, benéfico.
Ainda são poucos os estudos sobre a importância desse tipo de ensino no Brasil e normalmente os dados e pesquisas ocorrem em outros países. Em estudo de revisão sistemática da literatura sobre o tema realizado por Capelinni e Germano (2014), alguns dados apontam para aspectos positivos nesse tipo de ensino, mas o que gostaríamos de salientar, para além das questões sociais, são os processos neurológicos envolvidos na aquisição de uma segunda língua (L2).
Dentro da linha de desenvolvimento infantil, existem períodos favoráveis (sensíveis) a aquisição de habilidades e/ou processos educativos (Bee e Bloyd, 2011). Esses períodos favorecem o aumento das sinapses (troca de informações entre as células do cérebro), a plasticidade (capacidade de adaptação e seleção de informações que chegam via ambiente) e favorecem o aprendizado, inclusive de uma segunda língua. Em suma, a aquisição de uma segunda linguagem é mais eficaz, inclusive com maior eficiência, em idade precoce.
Essas modificações a níveis cérebro/funcionais, foram identificadas em exames de Ressonância Magnética Funcional (RMF) e Ressonância Magnética por Difusão (RMD). Esses exames […identificaram maior ativação funcional e alterações de padrões microestruturais nos cérebros dos bilíngues em relação aos monolíngues. A maior ativação de bilíngues pode ser parcialmente devida a diferenças na proficiência das duas línguas.] (Petitto et al. 2012; Mohades et al. 2012). Há ainda o aspecto neurocognitivo que é apontado por muitos pesquisadores como sendo protetivo contra processos demenciais, ou ainda, como um dos fatores que criam aquilo que conhecemos como reserva cognitiva (Stern, 2013). Esta, protege, atenua ou retarda o aparecimento de doenças degenerativas, mesmo aquelas que possuem uma base genética.
Possibilitar o aprendizado de uma segunda língua em idade adequada a uma criança é eficaz, promove aquisição a nível cerebral que permite o aprendizado de forma completa (com menor possibilidade de fala com sotaque), insere a criança nos aspectos objetivos e subjetivos de uma segunda cultura, aumenta a reserva cognitiva tão importante para a proteção a nível cerebral! Estejam conscientes de que vocês estão, sobre várias formas e com excelentes resultados, proporcionando a seus filhos ensino de qualidade e possibilidade de crescimento para toda a vida!
Por Kelly Vargas Thompson